terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

John Stein Raising The Roof - Zé Nazário:Um Palmeirense Over The Top!!

Confesso que o primeiro baterista de Jazz que ouvi na minha vida foi o afro-americano Art Blackey e o baterista de Dave Brubeck Joe Morello.Isso lá pelos meus doze anos de idade, quando o amigo do meu pai Seu Antonio Vitor(baterista de Paraguaçu Paulista, radicado por anos em Londrina e Maringá e que fez história nas noites da década de 60 e inicio dos 70 em boates como a Paddock e o Casarão), me trazia as fitas gravadas com clássicos como Take Five, Caravan(da Buddy Rich Orchestra) e Moanin do Art Blackey&Jazz Mensagers.Ele foi a pessoa que me introduziu a bateria e me dava aula de compassos e de como tocar em 5/4, 2/4 e 4/4 me ensinando como se tocava um samba cruzado, um jazz waltz e bossa nova.Na verdade acho que o Seu Antonio Vitor me via como o filho baterista que ele não teve, pois via em mim um entusiasmo por música, tanto por rock, quanto por qualquer tipo de música boa que me jogassem na mão. O tempo passou e já fazem agora mais de vinte e cinco anos que empunho as baquetas(acredito que com mais paixão ainda do que no inicio, não por que esteja afastado da profissão, mas por que quando a gente se desobriga de algo, parece-nos que se reacende o amor pela música).

Pois bem, passei pelas mãos de inúmeros bateristas profissionais, professores, cada um dono de estilo de tocar mais respeitável que o outro. Entre eles citaria Roggero Chiareli de Piracicaba, Gilson Corsaletti de Londrina, Douglas Las Casas e Miriam Cápua de São Paulo, mas sempre tinha em vista que um dia iria ter que fazer aulas com o Zé Nazário, até que este dia chegou. Fui até o estúdio CODA no bairro de pinheiros  logo quando cheguei em São Paulo em 1999 e entrei na sala do estúdio. Achei que fosse passar um puta papelão na frente dele quando me pediu para que tocasse algo para ele ouvir. Que nada..ele de cara se entusiamou e disse: - Bacana, vamos trabalhar então! e de cara me começou a passar os primeiros solos de caixa para acompanhar com bumbo e chimbal. Depois disso eu sei que foram anos tanto no CODA como na casa dos pais dele na Planalto Paulista em sua Gretsch Branca que tinha um som maravilhoso, estudando os mesmos solos, repassando.

Confesso que minha técnica foi ficando cada vez mais limpa e ele dizia: Carlão(eram como os amigos me chamavam em Pouso Alegre quando estudei no Cempa) - Você é baterista de Big Band.. é naturalmente pesado, não tem jeito. Mas nunca deixei de apreciar os comentários, conselhos e dicas que me dava. Muito mais que fazer aulas com o Zé, as suas experiências como baterista e sua natural personalidade de não se prostrar a música comercial em voga, fizeram ele chegar a John Stein, depois de passar por Hermeto, Grupo Um, John Mc Laughan, Pau Brasil, Duo Nazário, Zen, Ná Ozzeti e infindáveis artistas do mundo inteiro que ele acompanhou e para mim isso era o mais importante, a experiência de Zé Nazario.

Obviamente que o resultado junto de Stein , mais os músicos Koichi Sato e John Lockwood não seria outro que o segundo lugar nas paradas de Jazz americanos da revista Down Beat agora em Janeiro de 2010. Zé batalhou muito por isso e com o melhor:dignidade e conhecimento musical e artistico.

Confesso que neste momento estou ouvindo Raising the Roof e para mim ouvir a versão de "Moanin", com Zé "debulhando" a sua vassourinha me levou ao Art Blackey do Moanin Original que ouvi aos doze anos e que me levou lágrimas nos olhos, tal a originalidade da batida que ele conduz nos primeiros compassos. Este afoxe-maracatu-funk pareceu-me a sintese de todas os "grooves clássicos" :Flor do Sul , Acarajé ao Curry, feitos com Duo Nazário e que mereceu um justo encadeamento para o virtuosismo de John Stein. Zé tocando o Jazz bem americano me trouxe Elvin Jones de cara(o que raramente tinha visto fazê-lo, mas que desde sempre sabia-o conhecedor).


E não é só isso: em "Elvin" ele pareceu o Ademir da Guia fazendo gol contra o Corinthias de Rivelino no Pacaembú lotado: Só golaço!!! Em a "Child is Born" dá para perceber as nunces etéricas que consegue criar para o colorido da guitarra de Stein e o baixo de Loockwood. Quanto a Koichi Sato, o seu piano parece que nasceu na quinta avenida, no Village e ficou em Ipanema no Rio e por lá continua através desta gravação. Mas é em "Vivo Sonhando" que Zé Nazário mostra o que é bossa nova e como se toca o nosso Jazz Brasileiro.

Gente, este albúm para mim em poucos anos se tornará um clássico do Jazz americano e por que?

Um albúm que foi gravado como seu fosse em um "night club" , com muito desprentenciosismo e totalmente livre de egos musicais, juntando o "Who is Who" da cena musical intrumental mundial, só poderá ser um sucesso eternizado.

Parabéns Zé, parabéns Stein, Loockwood e Sato, um "Dream Team" de músicos de respeito que aos quarenta e cinco do segundo tempo fizeram o gol da virada.

Não é futebol que "é uma caixinha de surpresas" não, a música e os músicos do mundo é que nos surpreendem a gente  tempo todo.

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